Cerca de 1.000 pessoas compareceram à I Conferência Nacional do FIB, realizada pelo Instituto Visão no SESC Pinheiros, em São Paulo, no dia 29 de outubro. Aos olhos de alguns, o tema parecia um tanto insólito: uma medida de felicidade nacional vinda de um país longínquo. O que teria o Butão a ensinar ao mundo? Muito. Nesses tempos em que a crise mundial é só mais um acontecimento a revelar o desequilíbrio de nossa sociedade, a receita do Butão é, no mínimo, uma fonte de inspiração – para nações, empresas e indivíduos.
A ONU, ao estabelecer o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), em 1993, de algum modo sinalizou que o Produto Interno Bruto (PIB) não era adequado para medir o desenvolvimento de um povo. O PIB mede um progresso que pode perfeitamente esconder retrocessos ou danos que seriam proibitivos, se fossem levados em consideração. Como ressaltou o secretário do verde e do meio ambiente do município de São Paulo, Eduardo Jorge, vender soja para alimentar os porcos da China faz o PIB do Brasil crescer, mas o custo para os ecossistemas, contudo, não se parece nem de longe com desenvolvimento.
Felicidade Interna Bruta
Indicadores que balizam o orçamento – De acordo com Karma Ura, os índices do FIB avaliam e orientam o planejamento do desenvolvimento do Butão, dentro de nove dimensões:
- bem-estar psicológico;
- acesso à cultura;
- proteção ambiental;
- vitalidade comunitária;
- boa saúde;
- gerenciamento equilibrado do tempo;
- bom padrão de vida econômica;
- boa governança;
- educação de qualidade.
O que o Butão faz é selecionar, para cada uma das dimensões, atributos que as compõem. Mede cada um dos atributos por meio de pesquisas junto à sua população e chega a um índice cujo valor máximo é 1,0. Hoje, o FIB do Butão é 0,6.
“Baseados nos nossos valores, precisamos formular indicadores”, disse o homem em belos trajes orientais. Mas essa não seria uma frase típica de um consultor de estratégia empresarial? Pois é, parece que devemos medir e acompanhar o que nos serve. A questão básica é definir o que nos serve.
Como se vê, o padrão de vida econômica apenas compõe o FIB e não o define, pois ele é definido por um conjunto de dimensões, tanto objetivas quanto subjetivas, que resumem o que serve para as pessoas daquele país e norteiam a criação de políticas e a definição do orçamento.
Uau! Para mim, que já trabalhei em uma empresa na qual a simples menção da palavra “subjetividade” causava arrepios na alta cúpula cartesiana, diria que isso sim é que é “inovação de ruptura”... Ruptura com séculos de primazia do Homem de Lata antes do final feliz (aquele de Oz, para quem faltava um coração, lembra?).
O exemplo do Butão, no mínimo, dá um bom caldo para uma política de Recursos Humanos. Mas, a considerar o papel das empresas na sociedade, também pode inspirar as relações com clientes e fornecedores, bem como a cidadania corporativa. Afinal, onde há seres humanos, há dimensões e dimensões.
De minha parte, plagiando o bem-humorado economista Ladislau Dowbor, que proferiu uma brilhante palestra no evento, “eu quero é uma Bruta Felicidade Interna!”. A importação dessas mesmas nove dimensões pelo Brasil já seria um início e tanto. Ficarei na torcida. Enquanto isso, vou rever as dimensões que me exprimem. Qual próximo de 1,0 estará meu FIB? E o da sua empresa?
Sousa, Alexandra Delfino
Administradora de empresas e diretora da Palavra Mestra