sábado, 21 de junho de 2008

Laços que libertam

Moacir Jorge Rauber

Diz a lenda Sioux que um valente guerreiro pretendia se casar com uma linda jovem da tribo. Ambos consideravam que o seu amor era tão grande que gostariam de um feitiço para fazer com que permanecessem sempre juntos, até a morte. Com essa idéia foram procurar o feiticeiro que lhes disse:
- “Antes, porém, vocês devem cumprir com uma tarefa muito difícil.”
O Feiticeiro pediu que ela fosse capturar um falcão no alto da montanha e o trouxesse vivo no terceiro dia depois da lua cheia. Da mesma forma pediu que o guerreiro procedesse capturando uma águia. Assim o fizeram e se apresentaram diante da tenda do Feiticeiro com as aves, que ordenou aos dois:
- “Amarrem-nas com um laço pelos pés e soltem-nas, para que voem livres...”
Assim o fizeram, mas logicamente que as aves não conseguiram voar. Minutos depois estavam se bicando a ponto de se machucarem. Percebendo que os jovens estavam um pouco desolados o Feiticeiro complementou:
- “Jamais esqueçam o que estão vendo! Vocês são como a águia e o falcão... se estiverem amarrados um ao outro, ainda que por amor, cedo ou tarde, começarão a machucar-se. Se quiserem que o amor entre vocês perdure, voem juntos, mas jamais amarrados.” (http://contoseparabolas.no.sapo.pt/03outros/indios.htm)

Este exemplo pode nos trazer inúmeras reflexões sobre o desafio da vida conjugal em tempos de mudanças constantes na profissão, na família e na sociedade. Ainda que as tenhamos nomeado separadamente estas três áreas são interdependentes. A busca por ser bem sucedido profissionalmente, tanto por ele quanto por ela, pode levá-los a rumos diferentes, inclusive separando-os fisicamente. Esses são momentos críticos, pois tratam de avanços por parte de um, que na maioria das vezes requer recuos por parte do outro. Da mesma forma o desejo de construir uma família por meio da concepção de filhos é outro ponto que facilmente gera conflitos, pois para a mulher ele tem peso completamente diferente do que para o homem. Para ela o período em que se afastará do trabalho em função da maternidade pode ocasionar perda de espaço profissional, mas, por outro lado, deve ter em mente que o desejo de ser mãe biologicamente tem prazo estipulado. São questões muitas vezes difíceis de conciliar com o desejo do homem em ser pai, embora para ele as implicações profissionais sejam infinitamente menores. Por fim, tem-se a interação social do casal, resultante da família e dos amigos, bem como dos colegas de profissão. Em todas essas esferas a ligação com o cônjuge deve se dar por meio da confiança e da transparência no convívio. A confiança deve ser dada, pois caso ela não seja merecida o problema será de quem não a mereceu e não de quem a deu, assim como a transparência nas atitudes e no comportamento deve ser uma premissa do casal. Deste modo, tanto a confiança quanto a transparência não podem ser conseguidas por meio do laço que prendeu a águia ao falcão, mas somente por laços que se criam pela convivência, pelo comportamento e pelas atitudes. Isto porque esses laços são invisíveis materialmente, mas completamente perceptíveis pelos envolvidos.

Essas reflexões nos fazem pensar que se deve aprender a voar na mesma direção com nossos cônjuges, sabendo avançar e recuar; dar e receber; ceder e aceitar, além de ser zelosos, sem contudo, aprisionar. Por isso, a liberdade faz com que nos mantenhamos juntos.

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