terça-feira, 7 de outubro de 2008

Querer ser diferentes os torna iguais

Moacir Jorge Rauber

Um dos grandes desafios de boa parte dos seres humanos é ter a percepção de ser diferente, especial e único. Saber que não existe ninguém entre os mais de seis bilhões de habitantes que seja igual produz no indivíduo essa impressão e, certamente, revigora a vontade de viver, que é instintiva. Se por um lado o indivíduo se valoriza pela unicidade, por outro lado ele também busca a inclusão num grupo de iguais, que pode ser representado por uma religião, por uma nação, por uma torcida, por uma paixão, por uma profissão, enfim por um conjunto de pessoas com o qual tenha identificação. Esse é o dilema, ser igual sendo diferente ou ser diferente sendo igual.

Todo indivíduo, portanto, quer ser respeitado pela sua individualidade, pelo fato de ser único, diferente, um não igual a ninguém. Mas por outro lado nenhum indivíduo quer se sentir isolado, ou seja, tão único que fique sozinho. Por isso a busca pela identificação com algum grupo, justamente para que essa percepção do ser único não seja somente dele, mas principalmente da sua comunidade, da sua “tribo”, ou seja, no meio no qual está inserido, com reflexos na sociedade em geral.
Assim, tem-se o grupo de cantores, atores, artistas, músicos, compositores, surfistas, skatistas, filósofos, entre outros, que criaram algumas características únicas que os identificam como indivíduos, diferenciando-os do grande grupo da sociedade, mas igualando-os entre si. Essas características podem ter sido criadas propositadamente, assim como foram simplesmente surgindo no decorrer da existência de determinado grupo. Ao se tomar um grupo de pessoas unidas pela profissão, como no caso dos advogados que fazem uso da palavra “doutor” antes dos nomes dos profissionais, tem-se uma característica que foi inserida de forma proposital pela força corporativista do grupo, visando benefícios profissionais. Já os surfistas, casualmente criaram um vocabulário próprio que os identifica, sem contudo obter vantagens financeiras por isso.
Atualmente os integrantes de muitos dos grupos citados e não citados se sentem na obrigação de parecerem diferentes, independentemente do conteúdo a ser produzido pelos seus representantes. Desta forma o importante é parecer e não ser. Por isso são mais e mais cantores lançando moda e criando uma identidade visual própria. Esta diferenciação pode ser pelo fato de não ter identidade, para cada evento o inesperado em termos de vestimenta, de aparência. Também pode ser caracterizada por um detalhe que sempre o identificará, como um boné, uma casaca, um brinco, enfim, diferentes adornos pensados especialmente para se diferenciar. Assim sendo temos cantores que não são identificados pela interpretação de suas canções, mas pela performance de sua aparência. Essa mesma técnica se aplica a muitos outros grupos, como atores que buscam seu espaço no mundo das aparências e não do conteúdo de suas interpretações. Por isso cada vez menos se tem filósofos que se diferenciam pela sua filosofia; compositores por suas composições; pintores por suas obras; surfistas e skatistas por suas manobras; jornalistas por suas matérias; músicos por suas apresentações ou por seus arranjos.
Por fim, essa busca constante pela diferenciação é que os torna iguais. Cresce uma tendência em que mais e mais pessoas querem ser únicas, sem o comparativo existente num grupo o que os torna iguais, pelo fato de quererem ser diferentes. A imagem que se procura disseminar pode ser de alguém despojado, vencedor, em desacordo com o sistema, enfim, busca-se que ela se reflita em seus amigos, nos colegas, no trabalho e, também, naqueles que sequer conhecem, atendendo as exigências do mercado. Exigências essas que os levam para o mundo das aparências, ficando o conteúdo em segundo plano. Desta forma o fato de querer parecer ser diferente os tem tornado iguais, mas infelizmente essa igualdade está nivelada por baixo, somente nas aparências, quando deveriam buscar a diferença dentro do seu grupo de iguais em suas produções.

2 comentários:

Unknown disse...

Olá Moacir
Existem muitos "diferentes" por aí, que acabam não enxergando que no fim são iguais à muitos. Acho que, o que nos torna realmente diferentes são nossas atitudes, nossas características pessoais, que fazem despertar nos outros a atenção. Algo, por vezes, simples como um sorriso, uma expressão facial, um jeito de andar, um ponto de vista, entre outros...Isso sim é ser diferente!
Um beijão
Geneci

Unknown disse...

É isso aí, Geneci, as atitudes é que marcam a diferença entre as pessoas. Esperemos que sempre sejam atitudes melhores.
Saludos
Moacir