sexta-feira, 30 de maio de 2008

Raso ou profundo?

Moacir Jorge Rauber

A tendência da horizontalidade nas organizações havia chegado muito antes na essência do homem moderno. O modelo administrativo que tem sido mais implementado e sugerido para alcançar as melhorias de produtividade exigidas pela alta competitividade de todos os setores de produção e comercialização é o da horizontalidade, com a conseqüente diminuição dos níveis hierárquicos. Deste modo as empresas se tornam planas, rasas e com poucos escalões, ganhando agilidade e competitividade. Porém, para chegar as organizações essa idéia já havia tomado forma na própria concepção do homem moderno, que também se desverticalizou, tornou-se plano, superficial, raso, pouco profundo, com menos preconceito.

Ao recuarmos no tempo, aproximadamente cem anos, a grande massa populacional dos países se concentrava nos campos, local de pouca tecnologia, no conceito moderno, mas de muito conhecimento. O homem, genericamente falando, era profundo e vertical, pois conhecia todo o processo de produção do qual dependia para subsistir no meio em que vivia. Por outro lado era autoritário e preconceituoso, dificilmente aceitando mudanças de posição ou de conceitos. Por sua profundidade poucos eram os insumos de que dependia sobre os quais ele não dominava a sua forma de produção, mas com o incremento da tecnologia, do conceito moderno, esse mesmo homem começou a se horizontalizar, não dominando mais todas as partes do processo. Deste modo, passou a comprar as partes que compunham o produto final de que precisava, dependendo então de outros produtores. Consequentemente, o homem rural, antes vertical, agora horizontal, perdeu competitividade e foi morar nas áreas metropolitanas, mas ganhou maleabilidade com a amenização de posições rígidas e diminuição de preconceitos.
O ano de 2008 marca a história como sendo o primeiro ano em que a população urbana é maior do que a população rural. Certamente, muitos desses novos moradores urbanos ainda lembram das histórias contadas por seus pais e avós que descrevem uma vida que já não é mais possível. Uma vida com valores e conhecimentos profundamente arraigados, personificando um homem completo, auto-suficiente, mas com uma enorme carga de preconceitos que beirava a insanidade, muito diferente do homem urbano atual, muitas vezes sem raízes, sem profundidade, mas muito mais maleável e ameno. Por isso, o homem não deve ser nem tão raso que seja superficial, nem tão profundo que seja intransigente.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Comprar a melancia, mas não esvaziar o lago

Vejamos a história de Luiz, tirada do livro Histórias e Fábulas Aplicadas a Treinamento de Albigenor e Rose Militão, que trabalha na empresa há mais de cinco anos, exercendo sua função de forma como sempre foi orientado. Nos últimos seis meses foi contratado um novo funcionário, o José, no mesmo nível de Luiz. Para a surpresa deste, aquele no curto espaço de tempo de contratação já recebera uma promoção. Luiz fica indignado e vai falar com o patrão, que sempre lhe pareceu uma pessoa de bom senso. O patrão ouviu a reclamação de Luiz atentamente. Ao final da explanação prometeu que pensaria na situação, para logo em seguida pedir para que ele fosse verificar se tinha abacaxis na feira do outro lado da rua, pois pretendia fazer uma confraternização entre todos os funcionários no final da tarde. Luiz foi e retornou logo em seguida dizendo que no momento eles não tinham abacaxis. O patrão chama José e lhe dá a mesma ordem na presença de Luiz. José ao retornar dá a mesma notícia, porém acrescenta: “... mas tem melancias, melões e tangerinas, que estão com um bom preço, pois são frutas de época. As bananas, maçãs e uvas também estão com ótima aparência, um pouco mais caras, mas seriam ótimas para a festa”. Após essa explicação José se retira.O patrão olha para Luiz e diz: Esta atitude é uma das razões pelas quais ele foi promovido. Neste exemplo Luiz se mostrou completamente passivo, enquanto José foi proativo, conseguindo acrescentar ações positivas as rotinas da empresa.

Em função de exemplos como esse Proativo é a palavra da moda entre muitos pensadores, gurus do comportamento e orientadores de recolocação profissional. Considera-se proativa aquela pessoa que sempre faz algo a mais do que o esperado, conseguindo ter um diferencial no comportamento e nas suas atitudes, agregando valor. Por outro lado temos a palavra Reativo que caiu em desgraça junto a esses mesmos pensadores. Segundo eles nenhuma empresa ou organização precisa de alguém que seja reativo, ou seja, um crítico que oponha alguma reação ao proposto. Neste ponto vem a discordância. O que as empresas e organizações não precisam são pessoas de comportamento passivo e sem atitude, como no exemplo acima foi Luiz. Mas por outro lado as pessoas que compõe uma empresa ou organização devem ser um tanto quanto reativas no sentido de questionar e saber para que serve o que se está fazendo. Não podemos simplesmente sair executando ordens, melhorando os resultados se existem objetivos na empresa onde trabalhamos não lícitos ou gerem problemas para nós, nossa comunidade e para o nosso planeta. Se o patrão tivesse pedido para que um funcionário proativo como o José, sem características reativas, na calada da noite esvaziasse um lago de resíduos tóxicos, deixando-o vazar para um rio, certamente ele o faria esvaziando todos os lagos. A proatividade por si só não é uma virtude, ela tem que ter consciência e responsabilidade com relação aos seus atos. Não se pode mais aceitar pessoas que se defendam dizendo “Mas foi o chefe que mandou!” Num exemplo como o dos resíduos deve haver uma postura reativa dos funcionários, pois uma atitude como essa traria muitos prejuízos a todos.
Por isso a necessidade de avaliar as atitudes que tomamos como profissionais e como pessoas, sempre encontrando o Ponto de Equilíbrio entre ser Proativo e Reativo. Portanto, devemos ser proativos o suficiente para comprar a melancia, mas reativos o bastante para questionar o esvaziamento do lago.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

A Menina ou o Bebê

Moacir Jorge Rauber

A história, retirada do site www.possibilidades.com.br, fala de uma senhora que foi visitar parentes com um recém-nascido. Ao entrar na casa ela encontrou os pais, o bebê e a filha mais velha, de 4 anos. A senhora cumprimentou os pais e, ignorando o bebê no colo da mãe, foi saudar a menina, para só então dedicar sua atenção ao bebê. Ao saudar primeiramente a menina não causou nenhum constrangimento ao bebê, porém tivesse ela saudado o bebê primeiro, relegando-a ao segundo plano, certamente teria lhe causado um sentimento de rejeição. O bebê representa o novo que é bom, que é positivo. A menina representa o que já existe, o antigo, que também deve ser preservado. Normalmente as atenções são voltadas exclusivamente para o novo, numa situação de desequilíbrio. Essa senhora foi capaz de preservar o que já existe e de perceber o novo, dando-lhes igual importância.
A necessidade de se encontrar o Ponto de Equilíbrio entre o Novo e o Antigo é evidente. O novo, muitas vezes, nos encanta, por outro lado, às vezes nos assusta. O Antigo, muitas vezes, nos cansa, por outro lado, também nos traz segurança. Essas situações tendem a nos gerar uma série de inquietações, principalmente num tempo onde as mudanças não param de acontecer em que as novidades surgem diariamente, superando e enterrando o antigo rapidamente. Essas novidades variam desde o comportamento, até novas tecnologias. Há bem pouco tempo tínhamos a segurança de definir uma profissão no início de nossas vidas e saber que seríamos esse profissional até o final de nossos dias. Caso meu pai fosse “alfaiate” por exemplo, era bem provável que eu também o fosse. Hoje, essa profissão está praticamente extinta, assim como muitas outras desaparecerão dando lugar a novas. São cobradores de ônibus sendo trocados por catracas eletrônicas; são operários substituídos por robôs; são ordenhadeiras mecânicas tomando o lugar dos peões; e assim o Novo vai substituindo o Antigo. Esse fenômeno também ocorre com os costumes. Por exemplo, em muitas cidades era comum se formarem aquelas rodas de conversas entre amigos no final da tarde, que têm sido substituídas pela televisão e pela internet; o comportamento dos jovens também já não é o mesmo, praticamente em todas as FACETAS!. Neste caso, mudou-se a relação com os pais, com os mais velhos, a sua relação com o próprio corpo e consigo mesmo. E isso sempre é positivo? Para muitas situações sim, para outras não. Essa pergunta pode ser respondida pelo nome da coluna, pois é importante que se encontre o Ponto de Equilíbrio entre o Antigo e o Novo. Temos que saber avaliar para não repudiarmos o que é inevitável e positivo em nome de mantermos antigos costumes. Mas também temos que saber avaliar e dizer não para novidades que não acrescentem e que não nos melhorem como pessoas, como família e como sociedade. Temos que ter a sabedoria para aceitar o novo, sem renegar o que já existe.
As novas tecnologias, na verdade, são muito mais antigas do que parecem. A existência de toda essa parafernália tecnológica, que inclui a nanotecnologia e a biotecnologia, somente foi possível pela construção do conhecimento na trajetória da humanidade em sua luta pela sobrevivência iniciada há mais de 100 mil anos. Sem o domínio da tecnologia para acender uma fogueira, que hoje nos parece algo tão pueril, não teríamos conseguido manipular os metais, impedindo-nos de avançar em muitos outros campos. Desta forma, todo o conhecimento envolvido na construção de um novo super computador é resultado do acúmulo do conhecimento da humanidade. Assim, o Ponto de Equilíbrio nos permite ver o Novo sem desrespeitar o Antigo, porque se aquele existe é porque este o antecedeu. Deste modo, é importante que não nos descuidemos da menina com a chegada do bebê.
Envie a sua história de equilíbrio entre o Novo e o Antigo. Lembre-se, pense, converse com seus amigos e descubra em que situação o Novo e o Antigo convivem em harmonia ou não.

Algumas Divagações sobre o Ponto de Equilíbrio

Moacir Jorge Rauber

Sempre se fala no privilégio, na beleza e na maravilha do fato de sermos únicos, exclusivos, singulares, especiais, entre outros adjetivos relativos a nossa característica humana de dessemelhança para com todos os demais no planeta. Mas, por outro lado, também se deve destacar que o que nos torna únicos é a nossa pluralidade, a nossa multiplicidade de Facetas com as quais nos apresentamos. E buscar o Equilíbrio entre a individualidade e a pluralidade, considerando os extremos a que somos expostos rotineiramente, é o grande desafio.
Considere-se Equilíbrio, em alguns de seus significados segundo o Moderno Dicionário da Língua Portuguesa (Michaelis/UOL), como “proporção, harmonia, e­qui­valência de forças antagônicas num sistema fechado de inter-relação dinâmica, come­dimento, e domínio de si mesmo”. O que está expresso no conceito de Equilíbrio é o que nós almejamos para viver satisfatoriamente. Mas nós nos defrontamos com uma série de variantes que nos influenciam para um lado ou outro. Nós somos plurais, com diversas Facetas, mas por outro lado nós somos únicos. Conviver com a multiplicidade resultante dessa equação torna-se difícil. Somos indivíduos, mas temos nossa face família, nosso lado comunidade, nossa parte política, nossa porção profissional, entre outras frações em que nos dividimos. Também em nossas atitudes somos diversos, porque às vezes somos fortes ou fracos, corajosos ou covardes, independentes ou carentes, audaciosos ou medrosos, extrovertidos ou tímidos, aventureiros ou prudentes, românticos ou realistas, responsáveis ou estouvados, enfim, com quantas outras Facetas mais podemos nos apresentar com relação as atitudes. Nós podemos ser aquele que sente, que pensa ou que fala. Também podemos ser aquele que ouve, que vê ou que percebe. Analisando-nos somente dentro destas particularidades já seríamos muitos num só. Enfim, nós podemos ponderar sobre cada uma de nossas Facetas podendo subdividi-las em outras tantas, não chegando a um consenso sobre quem ou quantos nós realmente somos. Porque quando pensamos podemos fazê-lo de diferentes maneiras sobre o mesmo ou sobre diversos assuntos; quando sentimos somos acometido pelos mais variados sentimentos, como amor, ódio, paixão, raiva, gratidão, inveja, entre outros tantos sentimentos positivos e negativos, geralmente carregados de emoção que nos dão múltiplas Facetas. Quando falamos podemos dizer o que pensamos ou ocultar, expressando-nos com diferentes palavras daquelas realmente pensadas. Quando ouvimos podemos fazê-lo de forma a selecionar o que realmente nos interessa e não o que deveríamos ouvir. Quando vemos, de igual modo, podemos fazê-lo sob muitos ângulos e diferentes prismas. E quando percebemos podemos perceber de tantas maneiras que não há palavras, pensamentos, atitudes ou sentimentos que possam expressar a diversidade de Facetas oriundas da profusão de percepções em que nos transformamos.
É essa multiplicidade, essa pluralidade pelas incontáveis reações e percepções de nossas diferentes Facetas que nos transforma em seres únicos. Embora seja esse contraponto que nos tem levado ao desequilíbrio, ampliadas pelas inúmeras interferências do ambiente externo, como trabalho, sociedade e família. Essas condições nos levam a amar ou odiar demais nas relações pessoais; a nos dedicar ou nos descuidar demais nas relações profissionais; ou a dar ou esperar demais nas relações sociais. Esses exageros se aplicam a quase todas as esferas de nossas vidas, alcançando nossas diferentes FACETAS!. Na alimentação, na bebida, nas críticas ou nos elogios, muitas vezes exageramos para lá ou para cá. E, nós não precisamos ser cientistas para saber que o equilíbrio se encontra no meio termo, que nos levará a uma vida harmônica. Mas como fazê-lo? Eis o desafio.
O primeiro texto será A Menina ou o Bebê que trata do Ponto de Equilíbrio entre dois extremos. Leia e comente.