sexta-feira, 11 de julho de 2008

Nem tanto a Deus, nem tanto ao diabo

Moacir Jorge Rauber

Um pensamento quando é apresentado publicamente deve provocar nas pessoas reações de contribuição, de colaboração, de debate, de controvérsia, mas sempre por meio de argumentos. O que um pensamento ou uma teoria não precisa é arranjar seguidores ou opositores, porque tão somente se trata de uma proposta. Ela não precisa de seguidores porque um seguidor não amplia, não melhora e não aperfeiçoa uma teoria, mas sim limita o seu conteúdo porque não contesta, não contra-argumenta e não acrescenta nada àquilo inicialmente proposto. Do mesmo modo uma teoria não precisa de opositores que obedecem a máxima “Si hay gobierno soy contra”, porque estes não ajudam a construir, simplesmente destroem.

Essa proposição fica muito evidente nas histórias das grandes religiões mundiais. Pelo fato de elas terem seguidores ou opositores, muitas vezes, reduzem ou destroem a mensagem inicial proposta. Pode-se citar o budismo, o taoísmo, o hinduísmo, o islamismo entre outras grandes religiões atuais, que certamente provocariam o espanto e até o repúdio por parte daquele em quem os seus fundamentos se baseiam. Vou tomar o cristianismo como exemplo, cristão que sou. Imaginem se realmente Jesus Cristo pudesse retornar ao meio onde viveu e depois se aprofundar em tudo que já aconteceu e continua acontecendo nos quatro cantos do planeta em seu nome. Qual seria a sua reação se ele visse bispos, cardeais e papas ostentando vestimentas ricamente decoradas com fios de ouro, usando anéis com brilhantes e desfilando com um cajado adornado com pedras preciosas para apascentar o rebanho? Como será que Jesus Cristo reagiria frente às milhares de catedrais, templos, fazendas, mansões, palácios, redes de televisão e todo o império de riquezas comandado pelas diferentes, ricas e milionárias religiões cristãs? Qual seria sua posição numa daquelas sessões tão bem comandadas por pastores das mais diferentes igrejas ao extorquir as contribuições de seus fiéis para a “Obra do Senhor”? Sabendo que a sua teoria inicial tem como base “amar ao próximo como a si mesmo”, valorizando um reino espiritual e não material, provavelmente Jesus teria a reação que teve frente aos vendilhões do templo em Jerusalém, expulsando-os e proibindo-os de usarem o seu nome. Deste modo, se por um lado os seguidores provocaram esse desvirtuamento da proposta inicial, porque se apossaram dela, enquadraram-na e reduziram-na de acordo com seus interesses, criando em seu entorno uma rede de benefícios e beneficiários, por outro lado, se tivessem se sobressaído os opositores, simplesmente a teriam soterrado com todos os aspectos positivos intrínsecos a ela.

Por fim, os seguidores tiram quase tudo o que há de elevado no pensamento de alguém, reduzindo-o a uma doutrina, enquanto os opositores simplesmente o destroem. Por isso, temos que diminuir o número de seguidores e de doutrinados, bem como de oposicionistas pelo simples fato de ser contrário, valendo-nos da máxima “nem tanto a Deus, nem tanto ao diabo” para encontrar o equilíbrio.

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